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O que são negócios de impacto socioambiental?

30/07/2021
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Acredite: ao mesmo tempo em que o Brasil ronda o ranking das 10 maiores economias do mundo, ele também está entre as 10 dez nações mais desiguais do planeta, como mostram dados da Austin Ratings e do IBGE. Não faz muito sentido né?

O que explica isso são as assimetrias importantes que temos no acesso a saúde, educação e serviços financeiros. Elas resultam em demandas para soluções que o poder público já não consegue endereçar completamente – nem aqui e nem em nenhum lugar do mundo. É nesse gap entre demanda e ofertas insuficientes de soluções socioambientais que atuam os negócios de impacto socioambiental.

Esses negócios desenvolvem serviços ou produtos que resolvem problemas sociais e ambientais, como a falta de acesso ou má qualidade dos serviços de saúde, educação e financeiros, ou a gestão dos resíduos de cadeias produtivas. Essas empresas operam pela lógica do mercado e buscam retorno financeiro. Lucro, crescimento e impacto positivo estão no mesmo lado da equação. 

Intenção é uma palavra-chave para os negócios de impacto socioambiental, moldando toda a estratégia de curto, médio e longo prazo. Nessa ‘classe’ de companhias, a intenção de resolver um problema social relevante é a razão de ser do negócio. É seu core business. O impacto não deriva de projetos ou iniciativas pontuais, não se limita a processos internos e não está dissociado do modelo de negócios.

Veja alguns exemplos desse tipo de empresa:

  1. Celcoin
  2. Sanar
  3. We Cancer
  4. Eureciclo
  5. Origo Energia
  6. Letrus
  7. Magnamed
  8. Cred Popular
  9. Grão
  10. Provi

A lógica por trás desses negócios é a seguinte: ao resolver problemas sociais e/ou ambientais relevantes para os seus clientes através do seu core business, a empresa consegue alavancar a fidelidade do cliente, a atração dos talentos e a boa imagem da marca. Isso fomenta a rentabilidade, barateia a atração de capital e aumenta o valuation

Do lado do usuário, as condições de acesso e potencial de crescimento pessoal e profissional melhoram, gerando maior demanda e movimentando a economia e o mercado como um todo. 

O próprio impacto gera relevância e potencial de transformação, aumentando a competitividade do negócio, a geração de valor e, assim, um maior potencial de retorno financeiro.

Impacto e ESG 

Embora impacto socioambiental e empresas ESG se enquadrem no grande guarda-chuva dos negócios sustentáveis, há diferenças importantes entre as duas frentes. 

Os negócios de impacto endereçam soluções para problemas existentes através da entrega do seu produto/serviço, diferentemente das empresas ESG (sigla em inglês para ambiental, social e governança), que tem como premissa básica a mitigação dos efeitos negativos de seus processos. As empresas ESG não necessariamente criam produtos e/ou serviços para solucionar um problema socioambiental.

“Os negócios de impacto focam no quê é feito, enquanto o ESG foca no como é feito”, resume Daniel Izzo, CEO e cofundador da VOX Capital. 

A origem dos negócios de impacto  

O surgimento do primeiro negócio de impacto socioambiental do mundo não está registrado em cartório. Mas existe sim um antes e depois do Grameen Bank, banco de microcrédito fundado na região de Jobra, no país de Bangladesh, por Muhammad Yunus. 

Isso foi em 1983, e a intenção do negócio era ofertar crédito para mulheres de baixa renda, que viviam em ciclo de miséria, presas a agiotas. Cada uma recebeu um empréstimo de US$ 27, e a partir disso elas conseguiram quitar suas dívidas e começar pequenos negócios. Os empréstimos foram pagos e, por isso, o banco pode realimentar o ciclo de novos créditos, para novas mulheres. 

O exemplo do Grameen Bank endossou teses sobre a força do microcrédito e do potencial de escalabilidade e retorno de negócios que atendem públicos ainda pouco assistidos de serviços fundamentais.  

E aqui vale pontuar que hoje há duas terminologias para os negócios dispostos a solucionarem problemas sociais. 

A primeira, e com a qual a VOX se liga e este texto trata sobre, chama as empresas de negócios de impacto socioambiental, e entende que as companhias podem realizar dividendos junto a investidores. 

Já a terminologia ligada a Muhammad Yunus é chamada de negócios sociais e pressupõe que todo o lucro do negócio deve ser reinvestido – dividendos não são aceitos. 

Mas para além das distinções, o fato é que os negócios voltados à soluções socioambientais têm se desenvolvido. Em 2004, a Artemísia surgiu no Brasil para fomentar a integração entre negócios e impacto socioambiental. Além do trabalho de educar uma nova geração de empreendedores sobre a importância e potência dos negócios sociais, a iniciativa também se tornou uma aceleradora das empresas de impacto então nascentes. 

Hoje, uma das principais aceleradoras desse tipo de negócio no país é a Quintessa. A proposta do time é “ressignificar o papel de empresas como um instrumento de geração de impacto e estimular que tenham uma gestão consciente e humana”. 

Além do financeiro: quais são os indicadores de impacto 

Nos negócio de impacto socioambiental, a proposta de impacto importa tanto quanto o balancete contábil padrão. Logo, o impacto gerado precisa ser mensurado tal como é a performance contábil-financeira. 

O impacto gerado é analisado em cinco dimensões. 

  1. O que: trata do resultado para o qual a empresa está contribuindo, seja ele positivo ou negativo, e qual sua importância para os clientes e usuários (stakeholders)
  2. Quem: levanta quem é o usuário atingido e o quão mal servido ou carente ele está desse tipo de serviço, produto e benefício. 
  3. Quanto: qual o tamanho do impacto previsto, considerando potencial de capilaridade, profundidade e duração.
  4. Contribuição: O impacto ocorreria mesmo sem a solução proposta pela empresa?
  5. Risco: Que riscos serão impostos às pessoas e ao planeta se o serviço e produto não sair como o planejado?

Essas dimensões foram padronizadas pelo Impact Management Project (IMP), fórum de discussão global que elabora padrões de como medir, avaliar e reportar o impacto social e ambiental dos negócios. 

Entre outros, participam desse fórum a BlackRock, maior gestora do mundo, as consultorias PWC e KPMG, o IFC, braço do Banco Mundial para financiamento do setor privado, a ONU e financeiras brasileiras como nós, da VOX Capital, Mov Investimentos, BTG Pactual e Positive Ventures. 

O objetivo é dar solidez ao processo de mensuração do impacto. Embora já se tenha a diretriz do que é considerado impacto, a inclusão dessa frente na análise da companhia ainda não é fluida ou amplamente entendida como é a análise convencional de risco e retorno. 

Investimento de impacto dá retorno ?

Os números da VOX Capital confirmam que retorno financeiro e impacto positivo caminham juntos, desde que associados a uma análise do negócio em si. 

O Fundo Empírica Vox, de crédito privado, rendeu na segunda metade de 2020 exatos 10,22% ante 8,27% do CDI. Entre as investidas, estão empresas que dão crédito a PMEs, a pequenos varejistas da região do Brás, em São Paulo, e a zeladores condominiais que têm pequenos negócios de reformas e manutenção. 

O Vox Impact Investing II, de Venture Capital e lançado no final de 2016, teve uma taxa interna de retorno anualizada de 72% em 2020 segundo o Cambridge Associate benchmarks para Venture Capital Q2 2020 (vintage 2017).

É importante pontuar que os resultados não são garantia de retorno futuro. Mas claro que cabem às financeiras trabalhar para alcançar bons retornos. 

Na VOX, por exemplo, todas as potenciais investidas são analisadas dentro do roteiro da Teoria da Mudança, uma metodologia já estabelecida em avaliação de políticas públicas, que no processo da VOX facilita a compreensão sobre o negócios e a missão das empresas, e acaba servindo como um mapa estratégico do impacto para empresa e gestora. 

Essa análise é feita junto à dos indicadores financeiros, potencial de mercado e avaliação do time da investida. Afinal, entendemos que é na boa combinação dessas três frentes que está o maior potencial de rentabilidade de um negócio.

Outro ponto chave para potencializar as oportunidades de retorno está na gestão e mensuração do impacto, uma vez que elas auxiliam na gestão do portfólio e proposta de valor da investida. Nessa frente, a VOX criou o Impactômetro e a Matriz Impacto & Rentabilidade, que apoiam a gestão de impacto alinhada à fase de desenvolvimento e rentabilidade das empresas. 

Como investir em negócios de impacto?  

Há duas formas de investir nessas empresas no Brasil: via fundos de investimento e via plataformas de peer to peer lending (P2P), em que os investidores se unem para emprestar dinheiro para empresas. 

Os fundos de investimento ainda estão restritos a investidores qualificados – com pelo menos R$ 1 milhão em aplicações. A determinação vem da CVM (Comissão de Valores Mobiliários), que dita as regras do mercado financeiro no Brasil. Aos poucos, gestoras e reguladores têm atuado para democratizar o acesso a fundos de impacto. O processo passa por muita inovação, e deve acelerar nos próximos 12 meses. 

Já o P2P é hoje a opção mais acessível a investidores de varejo. Entretanto, como o universo de negócios de impacto mais desenvolvidos ainda é pequeno no país, há poucas oportunidades, que hoje têm sido mais conduzidas por plataformas como as da Sitawi e da Trê – Investindo com Causa.

Para a VOX Capital, realizar um aporte financeiro em uma organização significa trabalhar ativamente para que essa empresa exista no futuro e ganhe relevância. Ainda que de forma não consciente, toda empresa gera algum impacto na sociedade, negativo ou positivo, na busca dos resultados. 

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