Venture Capital

Como empreendedores e investidores brasileiros podem ajudar a evitar o desastre climático segundo a lógica Gates – parte 2 

27/09/2022
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oportunidades soluções climáticas Brasil

Por Rafael Campos, Gestor de Investimentos

Diante de tantos desafios, quais são as verticais de clima que, enquanto endereçam os maiores desafios ambientais, também representam as melhores oportunidades para empreendedores e investidores?

No texto anterior, traduzi sob o ponto de vista da economia brasileira a priorização de segmentos para atividades de mitigação climática conforme o livro “Como evitar um desastre climático – As soluções que temos e as inovações necessárias”, de Bill Gates. Aplicando a mesma metodologia do livro para nosso país, apontei as verticais mais relevantes para ações de mitigação climática para empreendedores e investidores brasileiros. 

Agora, vamos ao exercício de como essa visão se desdobra em oportunidades nas três maiores verticais em volume de emissões no Brasil:

1. Crédito de carbono, floresta e uso do solo

O desmatamento e alterações no uso do solo correspondem a quase metade das emissões brasileiras e, por isso, devem ser o foco da maioria dos esforços da sociedade e dos empreendedores. As atividades do setor são usualmente divididas entre soluções que valorizam a floresta em pé e evitam o desmatamento das áreas atualmente preservadas, e também soluções de reflorestamento. 

No primeiro caso, chamam a atenção as atividades que promovem o uso da biodiversidade das nossas florestas em modelos de negócios regenerativos e equilibrados, valorizando a produção por comunidades locais, que mantém a floresta em pé e gera renda para seus povos. 

Também vale olhar modelos de negócios para uso sustentável de áreas florestais, incluindo soluções para projetos de Pagamento por Serviços Ambientais (PSA) e negócios de compensação de áreas de conservação florestal (ex: cotas de reserva ambiental), que remuneram a manutenção da floresta.

Por fim, vale destacar a vertical do mercado de créditos de carbono. O mercado voluntário de créditos de carbono global saltou 4 vezes em 2021, chegando a USD 2 bilhões, e estudos da consultoria McKinsey estimam que o segmento pode chegar a USD 50 bilhões até 2030, impulsionado pelos acordos de reduções de emissões firmados na COP-26 e seus desdobramentos. 

O crescimento acelerado desse mercado já motiva a criação de startups em busca de soluções para temas variados, como:

2. Agropecuária 

Neste setor, o olhar usualmente é voltado para o impacto direto da agropecuária na natureza. Estamos falando do desmatamento de áreas para cultivo de alimentos ou gado, do mal uso de recursos hídricos para a produção de peixe em escala e da contaminação do solo pelo mal-uso de produtos químicos nas lavouras.

A Onda Verde, pesquisa que deriva de um trabalho robusto de mapeamento dos principais desafios da agenda ambiental do país, coordenado pela Climate Ventures e Pipe.Social, traz algumas frentes de soluções que já estão sendo desenvolvidas:

Além destas soluções que visam melhorar a sustentabilidade das práticas agropecuárias, também gosto de destacar uma tendência que pode trazer grandes benefícios ambientais: a substituição da proteína animal por proteínas alternativas. O gado, além do impacto ambiental das áreas degradadas para seu rebanho, também produz e emite gás metano durante o seu processo digestivo, e representa diretamente 18% dos gases de efeito estufa emitidos no Brasil (e 5% no mundo).

Em paralelo, também existem questões de saúde relacionadas ao consumo de proteínas de origem animal, bem como a preocupação com a qualidade de vida animal, o que vem acelerando a adoção de proteínas de fontes alternativas como a vegetal (hoje mais comum), de insetos e, ainda em fase mais embrionária de desenvolvimento, a proteína cultivada em laboratório.

O Brasil tem enorme relevância no mercado global de proteínas animais – por exemplo, o país é o maior exportador mundial de carne bovina –   o que abre portas tem uma grande oportunidade de se posicionar na vanguarda dos emergentes mercados de proteínas alternativas.

3. Energia

Primeiro no ranking global, o setor de energia é o terceiro maior responsável pelas emissões de gases de efeito estufa no Brasil.

O Brasil conta com uma matriz energética considerada “limpa” principalmente devido ao uso histórico de fontes hídricas. Para o crescimento da geração e distribuição de energia, o país precisará desenvolver alternativas, uma vez que inundar áreas para produzir novas hidroelétricas não será mais um caminho viável.

Parte das oportunidades no setor está ligada a grandes projetos de infraestrutura para geração e distribuição de energia de fontes renováveis. Entretanto, existe um campo enorme para projetos menores e com uso menos intensivo de capital, a saber:

O crescimento acelerado desse mercado já motiva a criação de startups em busca de soluções para temas variados, a saber:

A Onda Verde destaca, ainda, soluções para coprocessamento em sistemas industriais e agroindustriais, principalmente a partir de resíduos (waste-to-energy).

Outra tendência mais recente é o desenvolvimento de uma forma mais econômica para produzir hidrogênio verde, apontado por especialistas como o combustível do futuro neutro em carbono, e já podem ser encontradas iniciativas para sua aplicação no Brasil.

Exemplos do portfólio VOX

Originalmente focada em soluções de impacto social, a VOX ampliou sua tese de investimentos em 2020, passando a incluir soluções para impacto ambiental.

No nosso portfólio, destacamos os investimentos realizados no primeiro semestre de 2022 na Nude, uma dfoodtech, e na Octa, um marketplace de economia circular.

A Nude produz leite e outros alimentos a partir de aveia, em substituição ao uso do leite de vaca, gerando uma economia de emissões de gases de efeito estufa, uso de água e de área. Para produzir um copo de leite de vaca por dia são necessários 200 litros de água e uma área de 650m². Para produzir a mesma quantidade do leite Nude, são necessários apenas 74 litros de água e uma área 10 vezes menor. Para conhecer este investimento e seu impacto ambiental em maiores detalhes, recomendo a leitura deste post no blog da VOX.

Já a Octa é um marketplace de economia circular para o setor automotivo. A plataforma ajuda a destinar carros em final de vida útil a centros de desmanches legais e, com isso, reinserir as partes e peças na economia, além de destinar corretamente os materiais sem aproveitamento. A cada tonelada transacionada na plataforma, estimamos a redução de 1,5 toneladas de emissões de gases de efeito estufa. Para conhecer mais, veja este post no blog da VOX.

Investimento em Climatechs dobrou em 2021 e segue em crescimento

Segundo a Techcrunch, o investimento em Climatechs (startups que desenvolvem soluções e tecnologias que auxiliam no combate ao aquecimento global) dobrou em 2021, atingindo USD 40 bilhões. No primeiro semestre de 2022, startups do setor já levantaram quase USD 10 bilhões em 500 transações, crescendo quase 20% em comparação ao ano anterior, de acordo com a Climate Tech VC.

Adicionalmente, os Estados Unidos aprovaram recentemente a lei de redução da inflação (IRA) que vai injetar mais de USD 400 bilhões na economia verde nos próximos anos, impulsionando ainda mais a continuidade do crescimento do setor.

Esta tendência positiva de fluxo de capital para mitigar os efeitos climáticos abre espaço para empreendedores e investidores atuarem no segmento. 

E você? Já pensou sobre como está contribuindo para que nós, enquanto sociedade, reaprendamos a viver no planeta, mitigando os impactos da ação humana na natureza e contribuindo para um planeta 100% regenerado?

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