Por Alied Mônica, analista de Venture Capital
A VOX Capital está entrando em 2022 já com o anúncio do aporte na Nude, foodtech brasileira de produtos plant-based à base de aveia. A startup quer estimular os consumidores a reduzirem sua pegada de carbono na cadeia da alimentação e já tem parcerias com Dengo e Bacio di Latte, além de estar em pontos de venda como St Marche, Oba e Natural da Terra.
Estamos muito empolgados em liderar a rodada série A da Nude, no valor total de R$ 25 milhões, ao lado dos coinvestidores Lever VC, Angel Ventures, Ecoa e Endeavor Scale Up. É o nosso primeiro aporte dentro de uma tese ambiental, reforçando a nossa Tese de Impacto e a expansão dos investimentos para além da esfera social.
Abaixo, detalhamos os seis principais motivos que respondem o porquê da nossa decisão de investimento da Nude mesmo diante de um pipeline com tantos negócios na vertical de proteína alternativa e engajados com a geração de impacto ambiental positivo.
1. Mercado em crescimento e cada vez mais diversificado
Se toda vez que você escuta ‘indústria de alt protein’ você pensa em carne vegetal, é hora de expandir seus horizontes.
A vertical também inclui leite e lácteos de base vegetal e em cafeterias e supermercados da Europa e dos Estados Unidos já há enormidade de variedades e marcas dentro da categoria. No Brasil e na América Latina, a marca mais conhecida é a NotCo, uma das pioneiras na vertical na região, mas que ainda captura um pequeno percentual do market share diante do tamanho potencial do mercado.
Segundo o Statista, o leite alternativo já representa 15% do mercado de leite na América do Norte. E dentre todas as alternativas, a aveia é uma das que mais cresce. Nos EUA, o ceral já ultrapassou a soja e está em segundo lugar na categoria de leites vegetais – atrás do leite de amêndoa.
Relatórios da Oatly, outra marca de leite de aveia, que fez seu IPO em maio de 2021, mostram que na Europa a tendência é ainda mais forte. No Reino Unido e na Alemanha, o leite de aveia já representa, respectivamente, 42% e 60% da categoria de leites vegetais.
Estimativas da Bloomberg preveem que o mercado de leite e lácteos possa movimentar, em todo o mundo, cerca de US$ 82 bilhões até 2030, representando um market share entre 10% e 13% da categoria de plant-based. Embora o leite seja um dos principais produtos, a também têm crescido as frentes de sorvetes, creme de leite, iogurte e queijo.
2. Redução da pegada de carbono e impacto ambiental
Para produzir um litro de leite de vaca são necessários 1 mil litros de água, ou 200 litros para cada copo, aproximadamente. Isso é muito mais do que demandam os leites vegetais. Segundo estudo publicado na BBC, entre as opções de leite vegetal, o leite de amêndoa é o que mais ‘bebe’ água, e ainda assim, são 74 litros para cada copo. E detalhe: estamos falando aqui de água doce, a mesma que nós, seres humanos, consumimos na hidratação e higiene.
O mesmo estudo mostrou que, enquanto a produção diária de um copo de leite de vaca demanda uma área de terra de 650,3m², a mesma quantidade de leite de aveia pede uma área dez vezes menor que isso.
E tem mais: entre os leites vegetais, o de aveia é um dos que menos causam impacto negativo no ambiente porque:
- Ele tem a segunda menor pegada de carbono, atrás apenas do leite de amêndoas
- É o segundo na fila dos que menos consomem água
- Já quanto ao uso da terra, a relação espaço/produção é similar às demais opções de leite vegetal
3. Componente nutricional
Estudos feitos sobre a base de leites vegetais existentes no mercado mostraram que o leite Nude se destaca pela sua tabela nutricional equilibrada e livre de aditivos químicos. Além do sabor naturalmente adocicado e presença de carboidratos saudáveis, o leite da startup tem equilíbrio na quantidade de fibras e baixo teor de sódio. Ele também é rico em cálcio, vitaminas do complexo B, ajuda na prevenção de doenças cardíacas e auxilia na redução da pressão sanguínea.
Para além da riqueza nutricional, o leite Nude, assim como os demais vegetais, é uma opção para cerca de 30% da população brasileira que, segundo o Datafolha, apresentam problemas de digestão de leite de origem animal e derivados.
4. Time de execução
A dupla fundadora Giovanna Meneghel e Alexander Appel têm experiência em empreendedorismo, mercado de capitais e produção de aveia. Giovanna é da família proprietária da SL Alimentos, um dos maiores moinhos de aveia do Brasil, e Alex já passou pelo setor financeiro e também pela SL.
Para além desse background, a velocidade com que a Nude conseguiu entradas de peso no mercado em menos de um ano chama a atenção. A capacidade de execução do time fez com que a empresa, em menos de 12 meses, já estivesse em mais de 400 pontos de venda e cafetarias, com destaque para St Marche, Oba e Natural da Terra, e cafés como The Coffee.
5. Intenção de impacto positivo
Não é comum startups terem, desde o começo, áreas de gestão de impacto e sustentabilidade estruturadas. Na Nude, isso aconteceu com menos de um ano de mercado, e a equipe realmente mostra um walk the talk alinhado a seus valores.
Além de ser uma empresa B e possuir alguns reconhecimentos, a empresa é transparente e comunica ao consumidor a pegada de carbono do produto – cálculo que considera as emissões desde o cultivo até a chegada ao consumidor final.
Para além do produto e estímulo junto aos consumidores, a redução da pegada de carbono também é tema junto aos colaboradores. No aspecto da governança, a empresa incentiva o time a se atentarem para suas emissões de carbono mesmo fora do ambiente de trabalho.
6. Percepção de que a ampliação do acesso é necessária
Um dos principais desafios do setor de proteínas alternativas e plant-based, entretanto, é o preço. Ele ainda é pouco competitivo, se comparado com produtos tradicionais de proteína animal.
Um leite Nude versão Sem Glúten + Cálcio custa na faixa de R$ 20, um preço caro demais para a maior parte dos brasileiros. Para efeito de comparação, uma unidade do leite de caixinha tradicional custa cerca de R$ 5.
E como reduzir tamanha desiguladade entre os preços? Precisamos de uma atualização da política fiscal do Estado, que ainda tem isenções tributárias que beneficiam a indústria leiteira e deixam de lado as políticas ambientais.
De qualquer forma, a indústria plant-based vem tendo seu avanços, mas ainda há muito para percorrer. Neste meio tempo, a boa notícia é que o time da Nude conhece bem os desafios da indústria e sabe da importância de se ter produtos acessíveis para cada vez mais pessoas.
A expectativa é que, com demanda crescente, escala e tecnologias mais avançadas, teremos produtos que permitam a regeneração do meio ambiente de um lado, e entreguem mais saúde e sabor a um preço acessível, de outro.
É por isso que, com orgulho, intenção e clareza sobre o potencial do negócio, a VOX se tornou investidora da Nude.