ESG é a sigla que mais tem pautado os negócios, como você deve ter percebido. O termo se refere a fatores ambientais (Environmental), sociais (Social) e de governança (Governance), que são integrados nas atividades de uma empresa – ou não. Em meio à urgência das mudanças climáticas e demanda por soluções sustentáveis e de responsabilidade social, consumidores e investidores têm preferido as companhias que melhor se posicionam no mundo ESG porque entendem que isso melhora a qualidade da vida no planeta e fomenta o potencial de rentabilidade dos negócios.
As boas empresas ESG são as que têm suas operações na área da indústria, distribuição e serviços, por exemplo, alinhadas às melhores práticas ambientais, sociais e governança. Na prática, isso significa que elas emitem pouco carbono, fomentam a diversidade de raça e gênero e não praticam corrupção, entre outros.
O investimento ESG, por sua vez, é o que baseia a tomada de decisão nos três fatores. Os investidores preferem as empresas mais atentas à responsabilidade social e ambiental, e bem posicionadas no contexto do ESG.
Mas será que as empresas brasileiras já respondem a essas demandas? Para tentar responder a esta pergunta, fomos atrás de números. Confira alguns deles:
– Segundo pesquisa da Ambima – Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais, os fundos que investem em empresas com preocupação social, ambiental e de governança somavam em julho de 2020 aproximadamente R$ 540 milhões; em dezembro, esse valor saltou para quase R$ 818 milhões, e em janeiro deste ano, ultrapassou o R$ 1 bilhão.
– Um levantamento feito pelo Valor Data, comparando os índices da B3 – Ibovespa (o principal índice brasileiro) e ISE (índice com as companhias que adotam a agenda ESG) entre dezembro de 2009 até maio de 2021, mostrou que o ISE teve alta de 105,48%, enquanto o Ibovespa teve alta de 79,30%.
– No mesmo estudo, uma comparação entre o Ibovespa e o Índice Carbono Eficiente Brasil (que reúne as companhias que adotaram práticas transparentes com relação às suas emissões de gases de efeito estufa), mostra praticamente um empate. A alta do Índice Carbono Eficiente é de 101,08% entre 2013, ano de sua criação, até 18 de maio. Já o Ibovespa nesse período ganhou 101,76%.
– Segundo estudo da Distrito, existem hoje 740 startups atuando no Brasil, focadas em temas ESG, que vão de energia solar à igualdade de gênero. No ano 2000 eram apenas 23.
São números que mostram que o ESG no Brasil já é uma realidade. Assim como vem acontecendo mundo afora, as empresas por aqui têm se preocupado cada vez mais e mais em seguir a cartilha da sustentabilidade, adotando práticas ambientalmente e socialmente corretas e seguindo todas as normas de governança.
ESG no Brasil: Brasileiros se importam com a conduta
A preocupação tem uma razão. Os consumidores brasileiros estão cada vez mais conscientes e preocupados com a forma como são produzidos os produtos que consomem. Segundo pesquisa da KPMG feita com consumidores do mundo todo este ano, dentre os que mais se importam com a abordagem das empresas em relação ao meio ambiente, 5% são brasileiros, já dos que se importam com a consciência social da empresa, 9% são brasileiros.
Estes números mostram uma evolução bem-vinda. “Oito anos atrás, mesmo procurando alguém que queria falar sobre este assunto, a gente não achava e quando achava não estava tão fácil. Agora o tema está vindo por várias razões, seja por convicção, conveniência ou por constrangimento (…) vejo chegando forte”, disse Roberto Pedote, presidente do conselho da WWF Brasil, durante o podcast Conversas de Impacto, da VOX Capital.
É fato que a pandemia acelerou o interesse da sociedade para este tema. O aumento da desigualdade social a despeito das altas recordes na bolsa, deixou claro que não cresceremos como nação se o crescimento econômico não for para todos. “O que a pandemia trouxe com a dor foi o entendimento de que questões associadas à saúde, ao social e ao ambiente têm impacto econômico”, disse Sônia Favaretto, especialista em sustentabilidade pelo pacto global da ONU e recém-nomeada ao conselho de administração do BNDES, durante debate do Valor Econômico.
Cuidado com o greenwashing
O interesse crescente e popularidade cada vez maior do ESG no Brasil acaba pressionando as empresas. Tentadas a serem vistas como uma solução por consumidores e investidores, as companhias muitas vezes embalam discursos e ações pontuais que podem até garantir holofote, mas têm efeitos limitados, de curto prazo e pouco consistente. É o anti-ESG, ou o tal do greenwashing.
Não que seja errado destacar as ações bacanas voltadas para questões ambientais e sociais. Pelo contrário! Mas se a iniciativa visa marketing e publicidade, ela vira um tiro que sai pela culatra. Isso porque, no médio prazo, consumidores e investidores gostam mesmo é de efeito prático e resultado.
É se adequar ao ESG ou perder o valor
Adaptar o negócio às premissas do ESG é um baita desafio para as empresas. Afinal, enquanto entendem a melhor forma de ajustar os planos, elas também precisam manter toda a operação. É trocar o pneu com o carro andando.
Mas acredite, o esforço vale a pena hoje porque danos serão reduzidos amanhã. “Os negócios que não se preocupam com os impactos socioambientais vão sofrer penalidades nos valuations”, afirmou Daniel Izzo, co-fundador e CEO da Vox Capital durante o evento FIS 2021, da Abvcap. “Começa a se provar a tese de que se preocupar com o impacto que você causa no mundo é a melhor forma de fazer negócios”, acrescentou.
Do ESG ao impacto
O passo além após a adoção de práticas ESG dentro das empresas é a busca do impacto positivo dos produtos e serviços para o planeta e para a sociedade. Aqui na VOX Capital entendemos o investimento de impacto como uma evolução do ESG. “Enquanto o ESG olha para “como” as coisas são feitas, como a empresa é responsável na forma como entrega o produto ou serviço. O impacto olha para “o quê”, ou seja, se aquele produto ou serviço causa impacto positivo”, disse Izzo durante sua participação no fórum Impacta+.
O número de empresas que praticam o investimento de impacto também vem crescendo. Segundo o GIIN, Global Impact Investing Network, os investimentos neste mercado somaram U$ 502 bilhões em 2020. Ainda é pouco se comparado aos U$ 31 trilhões do mercado mundial de ESG, estimado pela Global Sustainable Investment Alliance, que representa cerca de 36% de todos os ativos sob gestão no mundo. Mas é sinal que ainda há muito trabalho a ser feito e um terreno fértil a ser cultivado.