Por Rafael Campos, Gestor de Investimentos
Bill Gates é conhecido globalmente como empreendedor fundador da Microsoft, gigante de software e uma das maiores empresas do mundo. Há muitos anos, o empresário se retirou do comando da empresa e tem se dedicado a atividades filantrópicas através da fundação Bill and Melinda Gates Foundation, focada no combate da pobreza e de doenças no mundo.
Nesta jornada, Gates compreendeu que as consequências da mudança climática serão mais severas para as populações de baixa renda, e também se propôs entender este fenômeno e suas consequências. Recentemente, criou uma nova organização voltada para acelerar a inovação em energia sustentável e em outras tecnologias para reduzir as emissões de gases de efeito estufa – a Breakthrough Energy Catalyst.
Hoje, o empresário e filantropo é reconhecido como um importante ativista do setor de sustentabilidade ambiental no mundo e, em 2021, publicou o livro Como evitar um desastre climático – As soluções que temos e as inovações necessárias. Na obra, Gates apresenta, de forma didática e simples, as ameaças que a mudança climática traz para o planeta e sua visão sobre o que fazer para reverter o cenário.
Neste texto, primeiro resumimos os caminhos para combater o desafio climático no mundo, segundo Gates, e sua proposta de priorizar esforços das soluções de acordo com o volume de emissões gerado. Na sequência, aplicamos essa mesma lógica de priorização, agora sobre a perspectiva do ecossistema brasileiro.
Caminhos para combater o desafio climático no mundo, segundo Gates
A sociedade atual emite 51 bilhões de toneladas de gases de efeito estufa a cada ano, e Bill Gates prega que a meta da humanidade para evitar uma catástrofe precisa ser zerá-las. Atenção: o objetivo, segundo Gates, não é reduzir. É zerar.
O livro incentiva alguns caminhos para isto.
Cada indivíduo no planeta tem sua parte na culpa e a responsabilidade de reequilibrar sua relação com a natureza, e as emissões acontecem nas atividades mais simples, e taambém nas mais complexas, como a construção civil. O autor apresenta um olhar pragmático para direcionar os esforços da sociedade, principalmente de governos e grandes instituições: priorizar as ações mitigatórias de acordo com a volume de emissões, focando nos setores da economia que mais emitem.
Nesta linha de raciocínio, o fundador da Microsoft propõe o foco global em 5 categorias, e abaixo reproduzimos seguindo a mesma nomenclatura proposta por Gates:
- Como fabricamos as coisas: responsável por 31% das emissões dos 51 bilhões de toneladas
- Como ligamos as coisas (energia): responsável por 27%
- Como cultivamos as coisas: responsável por 19%;
- Como transportamos as coisas: responsável por 16%;
- Como esfriamos e aquecemos as coisas responsável por 7%.
Boa parte do livro discorre sobre as tecnologias já existentes e outras em desenvolvimento nestes cinco segmentos, e aprofunda os caminhos possíveis em cada um deles. Nos capítulos finais, o livro propõe uma espécie de plano para zerar as emissões.
Recomendo sua leitura para todos interessados em sustentabilidade e mudanças climáticas.
Priorizando as atividades de mitigação climática na realidade brasileira
Em 2020, o Brasil emitiu 2,16 bilhões de toneladas de carbono equivalente, o que representa entre 3% e 4% das emissões globais anuais. Ocupamos a 7º posição na lista dos países de maior emissão global, segundo o SEEG (Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa), uma iniciativa do Observatório do Clima.
Isso posto, e utilizando o mesmo princípio de Gates, podemos priorizar os segmentos responsáveis pelo maior volume de emissões no Brasil:
- Florestas e uso do solo, incluindo desmatamento: responsável por 46% dos 2,16 bi de toneladas
- Agropecuária: responsável por 27%
- Energia: responsável por 18%
- Processos Industriais: responsável por 5%
- Resíduos: responsável por 4%
O mapa a seguir destrincha esses números por setor, região e tipo de gás produzido.
Fonte: SEEG (Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa – iniciativa do Observatório do Clima)
Uma análise cautelosa de ambas as referências mostra que há diferença considerável entre o ranking nacional e o ranking global, apresentado por Gates. Por aqui, lideram a lista as emissões advindas do desmatamento e da agropecuária.
Pela lógica de Gates, atacando os problemas de acordo com sua representatividade no total de emissões, o nosso foco deveria estar orientado a inovações e iniciativas que mitiguem o desmatamento e as emissões que vêm da agropecuária. Após essas duas priorizações, deveríamos ter na agenda inovações na frente de Energia, Processos Industriais e Resíduos.
Pensando como atores do ecossistema de empreendedorismo – em especial, como empreendedores e investidores -, esta forma de priorizar pelo “tamanho do problema” pode ser um direcionamento para a criação de novos negócios e teses de investimentos.
Na VOX, nossa tese de investimento para um mundo 100% regenerado naturalmente inclui a frente relacionada a planeta e subtemas como redução das emissões de gases de efeito estufa que não desequilibrem o metabolismo do planeta, florestas e outros recursos naturais protegidos e restaurados, energia limpa disponível a todos e a produção sustentável de alimentos em agricultura localizada.
No próximo texto, traremos a evolução do mercado e novas soluções nos subtemas acima citados, trazendo exemplos de tecnologias e soluções emergentes que já representam boas oportunidades.