Venture Capital

Cresce número de startups de impacto e, junto, a responsabilidade dos fundos

06/05/2022
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Startup de Impacto é nova onda de investimento

Por Gilberto Ribeiro, sócio e CIO, Rafael Campos, portfólio manager na VOX Capital

Quando a VOX começou sua jornada em 2009, “Investimentos de Impacto” era uma expressão ainda pouco conhecida no mundo e completamente nova no Brasil. Nos últimos anos, essa estratégia de investimentos vem ganhando destaque em diferentes classes de ativos, inclusive em Venture Capital (VC). Vemos um número cada vez maior empresas se intitulando “startups de impacto”, e um levantamento recente da ANDE calcula cerca de BRL 4,4 bilhões em ativos sob gestão detidos por investidores que perseguem esta estratégia.

Essa tendência precisa ser comemorada! A região tem enormes desigualdades sociais e apresenta grande potencial de preservação e regeneração ambiental. Portanto, todo o fluxo de capital humano e financeiro que for direcionado para ajudar a combater estes problemas pode, sem dúvida, gerar efeitos bastante positivos. Há muito espaço para startups de impacto.

Com os holofotes, é natural que a temática do impacto atraia a atenção da nova safra de bons empreendedores da região. Grandes problemas socioambientais proporcionam a oportunidade ideal para líderes inspiradores e com uma narrativa carregada de intenção e propósito recrutarem times talentosos em torno de problemas reais e, com isso, captarem parte da liquidez disponível em VC, como se tem observado. Torcemos pelo seu sucesso!

Entretanto, observamos com cautela a velocidade com que esta nova onda de investimentos tem acontecido e, especialmente, o afrouxamento dos termos de governança que os acompanham.

Como investidores de impacto, acreditamos no playbook de propósito duplo, no qual empresas podem gerar retornos atrativos e impacto socioambiental positivo para os beneficiários de suas soluções. Seguindo esta lógica, uma empresa que efetivamente resolve grandes problemas de uma grande parcela da população (ou do planeta) com um modelo de negócios rentável, tem um potencial de escala enorme, o que naturalmente trará retorno financeiro.

Neste sentido, a participação dos investidores de impacto na governança dos negócios cumpre um papel central na sua agenda, porque selecionar e monitorar indicadores de impacto em fóruns de alta liderança traz ferramentas eficazes para aprimorar e evoluir a proposta de valor dos negócios. Adicionalmente,  firmar compromissos e dar transparência e publicidade ao impacto da companhia cria condições para que a intenção declarada seja preservada junto ao crescimento do negócio, contribuindo para proteção de valor e mitigação de riscos.

O que não fazer

Vale lembrar de casos conhecidos no qual o afrouxamento da governança levou ao distanciamento do impacto real gerado – e, consequentemente, do resultado financeiro. 

No mais famoso deles, a carismática empreendedora norte-americana Elizabeth Holmes criou a Theranos com a nobre missão de tornar a saúde radicalmente acessível, ao afirmar ter desenvolvido uma máquina para realizar uma série de exames médicos com apenas algumas gotas de sangue. A narrativa de disrupção de um mercado gigantesco, somada ao currículo de elite da fundadora e ao conjunto de anjos e advisors de renome, cumpria o checklist básico dos investimentos de VC, e conquistou um estrelado time de investidores, captando mais de USD 945 milhões ao longo da existência da empresa.

Infelizmente o volume de recursos não pareceu ser acompanhado da devida diligência. Em 2015 as primeiras suspeitas de más práticas começaram a aparecer e após uma série de investigações, descobriu-se que os equipamentos não produziam os resultados que prometiam e o caso acabou se tornando uma das maiores fraudes da história do mercado de VC, culminando em um julgamento que debateu a responsabilidade dos administradores e investidores da companhia e que terminou com a condenação da empreendedora a até 80 anos de prisão.

Apesar de inocentados de quaisquer acusações, o caso levantou um debate sobre o papel dos investidores no ocorrido e a importância de uma diligência adequada em startups de impacto. Fica claro, portanto, que o aumento da oferta de recursos no mercado deve vir acompanhado de mais governança e diligência, e não menos. Essa afirmação se aplica em especial aos investidores de impacto, cujos negócios estão intimamente ligados às vidas das pessoas e não podem se dar ao luxo de “fake it until you make it”, “fail fast” ou “move fast and break things” para nomear alguns jargões do setor.

Vemos com muito bons olhos o volume cada vez maior de investimentos em startups de impacto – muitas vezes, em coinvestimentos entre casas de impacto e convencionais, como a própria VOX protagonizou no coinvestimento na Celcoin, juntamene ao BTG Boostlab e Sinqia, em 2021.  Quanto maior o fluxo de capital direcionado a soluções que buscam melhorar a qualidade de vida de todos os seres humanos e a mitigar os impactos de nossas ações no meio ambiente, maior será a nossa chance de construir um mundo regenerado. 

Como investidores de impacto, entretanto, este crescimento do setor aumenta a nossa responsabilidade.

Precisamos assegurar que a estrutura de capital favoreça quem efetivamente tem a intencionalidade de impacto, é capaz de fazer compromissos para garantir a continuidade do foco e está comprometido em mensurar o impacto gerado, tornando as métricas de seus negócios parte da agenda da alta gestão. Afinal, como aprendemos desde cedo nas escolas de negócios: apenas o que é medido (e acompanhado) é realizado. Com isso, aumentamos as probabilidades de efetivamente gerar o impacto almejado, com consequente retorno financeiro, assim entregando o duplo propósito dos nossos investimentos.

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