A VOX Capital acaba de anunciar seu novo aporte e o primeiro passo na vertical de saúde mental.
A investida da vez é a Vitalk, plataforma de gestão e cuidados com a saúde mental, que entra para o portfólio do VOX Tech for Good Growth I ao levantar R$ 22 milhões numa rodada de Série A liderada pela VOX e com coinvestimento da Greenrock, Valor Capital, Aquila e Goodwater Capital, dentre outros investidores.
Mas em meio a tantas startups de saúde mental, por que a VOX decidiu por este aporte, neste momento? A resposta combina três fatores.
1. Saúde mental é a porta para todas as outras “saúdes”
Sempre que sentimos uma dor percebemos, naturalmente, que algo não está bem. O incômodo físico é uma alerta do nosso corpo: precisamos de cuidado. Só que no caso da saúde mental, a identificação de que algo está desajustado não é imediata – não importa quantos recursos tenhamos disponíveis. O problema é que, sem a rápida percepção, os incômodos se acumulam em uma bola de neve.
Foi o que aconteceu com a ginasta Simone Biles nas Olimpíadas de Tokyo deste ano. Na ocasião, ela percebeu que ansiedades acumuladas estavam impactando sua atuação física. O tenista norte-americano Mardy Fish também enfrentou problemas, como relata no documentário lançado recentemente na Netflix.
As questões de saúde mental tem um potencial de impacto muito mais severo do que costumamos pensar. E quanto mais vulnerável a pessoa estiver, pior será o impacto em sua saúde, sua condição de produtividade e sua condição de atuar por um futuro melhor e com mais qualidade de vida.
Embora o termo da saúde mental seja denso e traga uma carga relacionada a questões psíquicas mais sérias e que normalmente não queremos ou não conseguimos enxergar, ele abrange questões muito comuns, como inseguranças, ansiedade e estresse financeiro. São sensações cotidianas que, se não forem percebidas e devidamente cuidadas, podem evoluir mal. Não faltam exemplos de doenças desencadeadas por questões psicológicas: sintomas gastrointestinais, alterações no metabolismo e problemas no sistema imune. Não raro, quadros de stress emocional desencadeiam até diabetes.
Compreender a relação entre emoções e sintomas é estratégico para pessoas e empresas. E como mostra o estudo Saúde Mental no Trabalho – Uma revolução vem vindo, da McKinsey, há cada vez mais organizações investindo em soluções para os colaboradores. O potencial do setor está claro, e seu crescimento ganha tração enquanto vamos vencendo as barreiras em torno do tema.
A omissão ou o não investimento em saúde mental traz perdas bem tangíveis. A falta de cuidado leva à piora da qualidade do ambiente de trabalho e outros impactos negativos, como a redução do potencial criativo e de inovação dos colaboradores das empresas. Estima-se que o custo das questões relacionadas à saúde mental chegue a US$ 1 trilhão por ano, como mostra a OMS (Organização Mundial de Saúde). Na contramão, para cada US$ 1 investido na promoção e tratamento da saúde mental, outros US$ 4 retornam para a economia, de acordo com artigo publicado pela Harvard Business Review.
2. Não é só terapia. Na jornada da saúde mental, educação e informação importam
Aqui começa o destaque da Vitalk, negócio de impacto social que atua na educação, prevenção, diagnóstico e tratamento de questões como ansiedade, estresse financeiro, depressão e burnout. Como opera no formato B2B2C, seus públicos são os colaboradores de empresas (usuários) e os times de RH (clientes).
A abordagem tem potencial porque mesmo com o aumento da relevância do tema, ainda há muito estigma social e desconhecimento sobre saúde mental. A Vitalk é um ponto de contato para quem ainda está se conhecendo e para quem reconhece que precisa de ajuda – a um custo mais acessível e com a conveniência da plataforma digital.
São duas frentes de atuação. A primeira é uma plataforma de inteligência artificial desenvolvida para auxiliar colaboradores de empresas-clientes em toda a jornada de educação sobre saúde mental e seu impacto no dia a dia, seja no trabalho ou em casa (se é que ainda conseguimos fazer essa distinção). Já os times de RH recebem mapeamentos inteligentes que, respeitando a LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados), identificam e propõem ações de prevenção, intervenção e melhoria na forma como a empresa aborda o tema da saúde mental.
Para manter os usuários engajados, há disparos de emails e lembretes da Viki, bot 24/7 que, junto a outros dados da Vitalk diminuem o tempo de atendimento por terapeuta e aumentam a efetividade clínica para o paciente. Essa estratégia endereça uma boa solução para os 82% de pessoas que preferem mesmo é falar sobre as emoções com um robô – em grande parte por causa da dificuldade que todos temos em falar de questões de saúde mental.
3. O time tem propósito na veia e domina a gestão de saúde mental
O fundador e CEO Michael Kapps é formado em economia por Harvard e já sentiu na pele o peso de uma ansiedade grave. Sua dupla é a psicóloga PhD Ines Hungerbuhler, experiente em clínica e em saúde digital. Juntos, eles têm a intenção de, via Vitalk, reduzir padrões de ansiedade especialmente nas classes mais baixas, diminuir o impacto das comorbidades físicas relacionados a questões mentais, quebrar o estigma relacionado ao assunto e mitigar a violência doméstica.
O caminho mais sólido para isso é a gestão de saúde mental, em linha com a proposta da gestão de saúde populacional, que levanta os riscos de doenças e sinistralidades entre os colaboradores para reduzir a ocorrência de internações, afastamento e despesas que oneram desnecessariamente o sistema.
Na proposta da Vitalk, educação e informação são chave para a saúde mental, identificação dos sintomas e as melhores práticas de cuidado individual e do outro. O impacto é positivo e perene porque informação e autopercepção empoderam o ser humano permanentemente em sua jornada de vida.
Lançado em 2020, o negócio já expandiu sua base de usuários em 380%, e em 2021 a taxa média de crescimento está em 30% ao mês. Grandes companhias como GSK, Grupo Soma, Vale e Anglo American já estão entre os clientes.